O Relógio de Vidro de Simony Peres e o transbordar do Amor Romântico.

  Já comentei aqui no Blog que participo do Clube do Livro Nacional  no WhatsApp . Em 2020 o  grupo tomou um novo fôlego e  assim foi aberto duas filiais . Graças a isso que entrei em contato, através do Clube do Nacional 2,  que em janeiro de 2021, com a escrita da autora  Simony Peres e o seu O Relógio de Vidro . 

   Venha conhecer mais sobre a obra!




Sinopse:O escritor e cineasta Roger Sans- brasileiro que havia conquistado o sonho americano-,viveu, no início de sua carreira,, cenas de horror e tentava encontrar forças para continuar sua jornada,depois de ver seu grande amor partir para sempre:perdeu sua noiva num atentado terrorista que modificou  o cenário da sua vida e do agitado estado de Nova York. O amor pela sua filha e sua paixão pela arte passaram a ser razões para continuar vivendo,mas um encontro inesperado com uma mulher misteriosa ressuscitará, em seu coração, sentimentos que ele jamais havia imaginado sentir novamente. Porém, no seu regresso ao Brasil,algo acontece e  muda o percurso da vida.
Autora: Simony Peres
Número de páginas: 269 páginas 
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❤❤❤❤

A trama de O relógio de Vidro me surpreendeu positivamente por duas razões principais: 
  1. A razão do título.
  2. O estilo

São dois mistérios presentes e farei o possível para mencioná-los sem tirar o prazer da descoberta do que, de fato, significam.

O primeiro deles é, sem dúvida, o que significa um relógio de vidro. Pensei, inicialmente, em algo assim...


    Com o desenrolar da trama, descobri que "Relógio de vidro" era o nome do livro que Roger Sans escreve, pouco tempo após ter sofrido a grande perda de sua vida. 
Sua noiva, Elisa Jane, é uma das centenas de vítimas do ataque terrorista conta as Torres Gêmeas onde ela, assim como tantos outros, trabalhavam em Nova York. 
     Em 11 de Setembro de 2001, Rogers Sans era ainda  um estudante brasileiro, vivendo o sonho americano: fazer sucesso e vencer. 
      A vida de Roger sofreu ali um grande abalo. O mundo de Roger para naquele momento. O tempo, que nunca para, parou para ele naquele instante.
     A narrativa faz grandes saltos temporais, como se brincasse com a linearidade do tempo- em um momento estamos vivendo a dor de Roger colocando flores no Memorial construído às vitimas do atentado para, no instante seguinte, estarmos revivendo o dia seguinte ao ataque terrorista:

Depois de tudo que presenciamos ontem percebi o quão é grande a fragilidade da vida;meu corpo dói por ter visto a fragilidade daquelas pessoas.Mas apesar das cenas que só pensaríamos ver na ficção, vi o real desespero do ser humano, mas também vi o amor dentro da dor: na solidariedade, na compaixão. Elisa nossas vidas ficaram por um fio. Era o dia que visitaríamos nosso amigo Murilo na Torre (...)

   Ainda tomados pela emoção desse inicio narrativo ao relembrar momentos dolorosos e, infelizmente, reais da história mundial, não tem como não lembrar com assombro e dor, do que cada um de nós estávamos fazendo naquele fatídico dia.

    Eu mesma lembro bem:estava na cadeira de balanço na sala, aqui mesmo no Brasil, enquanto cuidava de meu filho de seus meses. Devo ter cochilado brevemente, pois lembro ter acordado e olhado "a cena"do avião se chocando com a primeira Torre e a grande explosão que se seguiu. Fiquei intrigada, pois achei que, ao dormir, começara um filme na TV...e que não sabia que filme era aquele. Até que vi um repórter  da época explicando ,em breves palavras, o furo de reportagem, aquilo que tempos depois teria finalmente uma explicação impensável naquele início de século XXI e também do milênio: um ataque terrorista!

   Seria sobre a fragilidade da vida, uma metáfora para um relógio de vidro? Bem, seria uma explicação válida e durante boa parte do livro, essa explicação me satisfez.

Memorial & Museu Nacional do 11 de Setembro
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_%26_Museu_Nacional_do_11_de_Setembro


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A segunda questão levantada aqui é tão intrigante quanto a primeira: qual o estilo de Relógio de Vidro de Simony Peres?

Como mencionado acima,há um grande salto temporal. Dez anos se passam.

Roger Sans é agora um cineasta e escritor de sucesso. Vive para sua carreira e filha, nascida de um rápido e mal sucedido casamento, tal como costuma acontecer quando relacionamentos se baseiam numa idealização do parceiro. Roger não procurava outra mulher...ele procurava por Elisa Jane, em cada  mulher que cruzava seu caminho.

É nesse momento quando  conhecemos a co-protagonista da trama: Elisa.

Elisa é uma mulher que também está sofrendo o luto amoroso: perdeu seu marido Carlos . Casaram-se muito cedo e ela guarda com carinho um relógio que os amigos lhe deram no único aniversário que estiveram juntos.

   Carlos era escritor e dono de uma editora e,quando veio a falecer, Elisa passou a administrá-la. Mas ao contrário de Roger, que venceu na América, a empresa brasileira sofre um revés e está prestes a fechar as portas. Quando surge a oportunidade de Elisa conseguir entrevistar o aclamado cineasta brasileiro que faz sucesso no exterior.

  Sem entrar em maiores detalhes de como se dá  esse encontro entre Roger e Elisa , o que posso afirmar que foi muito romântico.... Pois é exatamente aqui que começamos a desvendar o segundo mistério desse livro : qual o estilo de Relógio de Vidro?

   O ultrarromantismo Contemporâneo de O relógio de Vidro

     O romantismo foi um movimento cultural e artístico que revolucionou as Américas entre os séculos XVIII e século XIX. Uma das mais fortes características da literatura romântica é o exagero sentimental,egocentrismo e em muitos casos , o pessimismo diante da existência..
Em consonância com o período histórico brasileiro do período, e fortemente influenciados por autores europeus como Goethe e Byron,o movimento  mexeu com a juventude da época. 
De fato, contam que houve muitos suicídios após a publicação do "O sofrimento do Jovem Werther" de Goethe, imitando o destino final do protagonista.
      No Brasil , os principais autores dessa época são Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. 

      Após  sofrer a perda do seu amor, Roger faz a amada de um personagem de seu livro " O Relógio de Vidro" e se fecha num sofrimento intenso, escondido sob uma máscara de arrogância e inacessibilidade. Ele só devota amor à sua filha, nascida de um breve casamento sem amor. Roger idealizava Elisa jane, que não tinha defeitos aparentes, e era tão especial, que talvez fosse mesmo ela o motivo de seu sucesso, afinal, foi graças ao livro que ele venceu o sonho americano.O livro que ele escreveu para ela.

     Elisa, por sua vez, suspira pelo amor perdido por seu Carlos. Fechou-se para o amor e  se entregou ao trabalho para honrar a memória e o nome de seu amado e falecido marido. 

     E então Elisa e Roger se encontram e o amor à primeira vista acontece, para ambos - embora Elisa resista um pouco mais a admiti-lo. Roger,entrega-se sem reservas e faz de tudo um pouco para poder concretizar esse amor. Elisa também o ama, mas contenta-se inicialmente com um amor platônico até que não pode mais resistir ao amor por Roger.

 Interessante é que ninguém troca a tristeza do amor perdido pela felicidade do novo amor. Mesmo quando por um único instante eles tocam no nome dos amores perdidos era como se o sofrimento não pudesse ser jamais substituído pela felicidade e a dor da perda nunca pudesse ser superada. O sofrimento ainda está lá, eles só criaram mais "Uma camada pessoal" onde acomodam o novo amor, o amor pela filha, pelos projetos em comum. Embora exista o discurso de seguir em frente, há um certo entrave aqui, onde se percebe que Roger e Elisa ainda moram naquele passado, ainda vivem lá., como amantes de Elisa Jane e Carlos, respectivamente.  nem mesmo Roger , nem mesmo Elisa, terão um ao outro como pessoas completas, para amarem e serem amados.

    Ainda que não pertença oficialmente à Playlist do livro, enquanto eu lia a obra me lembrei do sentimento expresso pela Música "Um dia Um adeus" de Guilherme Arantes . A música se encaixa perfeitamente como tema para os casais  presentes no livro, em especial , o casal de protagonistas.



      O pessimismo diante da existência é uma das características do estilo. Mas, será que essa característica está presente em O relógio de Vidro? Até certo ponto sim, ao mostrar sobre a fragilidade da vida, como um vidro que pode se quebrar a qualquer momento se não for manuseado com cuidado. Porém, como é uma obra contemporânea, essa característica aparece bastante suavizada, e ao falar da brevidade da vida,também traz uma importante campanha social sobre a importância da Doação de Órgãos, que é definida pela família logo após a perda do ente querido.

         Assim, esse livro poderia ser muito bem integrar um estilo ultrarromântico contemporâneo, por trazer as características daquele gênero, adaptados aos novos tempos.

          Uma história romântica interessante, que aborda temas muito atuais e resgata a beleza do amor...Belíssima!


                                                      Michelle Louise Paranhos    

 


 

Comentários

  1. Que resenha MARAVILHOSA!
    Esse livro é tudo isso e muito mais! Que percepção incrível!

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