Resenha de Dom casmurro de Machado de Assis

 É, o ano de 2022 começou mesmo diferente!👀

Resolvi me concentrar mais em projetos pessoais e saí de outros projetos que até gostava muito de participar, mas que me exigiam muito tempo e energia e, como já comentei, sentia-me muito sobrecarregada! 

Quem me conhece sabe que, se não sou contemporânea do  Bruxo do Cosme Velho, vulgo Machado de Assis, em comum com ele guardo comigo certos "ares de casmurrice": gosto de trabalhar em equipe, algumas vezes... mas, para escrever, prefiro que seja um ato solitário. Somente fiz parcerias literárias com duas pessoas muito especiais até hoje; mas isso é assunto para outro post.

Ora, ora! Então é essa a minha primeira leitura dessa obra? Decerto que não!Como acontece a quase todo mundo que conheço, todos têm uma opinião sobre o eterno dilema: Traiu ou não traiu? 

Já sabem de quem estou falando? 

Ah! Então , venha conhecer minha (re)leitura sobre essa obra imortal da nossa literatura!


A primeira vez que li esse livro eu era ainda muito pequena. Na casa de meus pais havia uma estante enorme de madeira ocupando inteiramente uma parede e que, por falta de espaço, foi parar justamente no meu quarto. E, apesar da educação em voga na época ser exatamente ao contrário, vá lá, meus pais nunca me proibiram de ler o quer que fosse,então sempre li todo tipo de obra, sem melindres desnecessários quanto à faixa etária.

Foi isso que me tornou uma leitora compulsiva ou o fato de eu já ser, ainda que embrião, uma leitora compulsiva que me fez devorar todos os livros da estante? Difícil dizer! Mas foi assim que li, por conta própria, muitos dos clássicos da literatura muito antes de ser "obrigada" a (re)lê-los, ainda no antigo segundo grau, hoje Ensino Médio.

Dom Casmurro é um desses clássicos obrigatórios que os leitores eternizaram;boa parte dessa fama se deve ao eterno dilema: Capitu traiu ou não traiu?

Há quem- acreditem em mim- queiram entrar nessa briga tendo folheado a obra apenas o bastante para um exame de múltipla escolha do colégio, sem nunca, de fato, tentar se ater ao que o autor se esmerou para debater através do enredo.

Sobre o que se trata o enredo? Bem, então vamos lá:

O enredo

O narrador é em primeira pessoa. Logo no primeiro capítulo conhecemos o motivo da alcunha de Casmurro: uma troça que fizeram com ele - Bentinho-por estar sonolento no trem da central,de onde ia da Cidade para o Engenho Novo;um rapaz quis com ele conversar, sobre de tudo um pouco e , por fim, mostrou-lhe versos...Bentinho fechou os olhos duas ou três vezes por estar sonolento e  foi o que bastou: por não ter dado a devida importância para o autor de versos, nem tão bons, nem tão maus, foi por ele apelidado Casmurro. Como, de fato, o narrador vivia recluso e calado, os vizinhos ajudaram a propagar a alcunha.

Bento mora sozinho com um criado e , como a maioria dos seus amigos já foram conhecer a "geologia dos campos Santos" e as pessoas novas falavam uma linguagem que lhe obriga a "consultar dicionários"- as metáforas, ironias e outras figuras de linguagem estão presentes em todo o texto-, Bento quis escrever um livro que o livrasse do tédio da vida. Escrever sobre o quê? Suas memórias,é claro. 

Começamos por conhecer a família. 
"Tio Cosme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já era então viúvo, como tia Justina; era a casa dos três viúvos." 
Bentinho- pois nessa época era apenas um meninote de 15 anos-, ainda não era Casmurro, e vivia de mexericos com a vizinha, Capitolina, chamada na intimidade de Capitu, filha da família Pádua, que os pais de Bento ajudaram durante uma enchente, dez anos antes, em que a família da moça de apenas 14 anos no início do romance, perdeu tudo.
O pai de Bentinho, Pedro de Albuquerque Santiago, deixou a mãe viúva aos 32 anos. Dona Maria da Glória.
"Os projetos vinham do tempo em que fui concebido.Tendo-lhe nascido morto o primeiro filho,minha mãe pegou-se com Deus para que o segundo vingasse, prometendo, se fosse varão, metê-lo na Igreja."

Foi assim que Bento vai para o seminário, com o objetivo de ser padre. Mas então, o agregado da família, José Dias, o mesmo que insinua à mãe de Bentinho dos namoricos de Bentinho com Capitu e à Dona Glória da tal promessa feita e já um tanto esquecida, resolve se compadecer do menino e aventar um plano para retirá-lo do seminário e o fazer estudar Direito. 

Paralelo a isso também Bento pensa em pedir ajuda ao agregado. A propósito, o pensamento surge após insinuações de Capitu, pois é ela quem procura soluções para a enrascada que se meteu seu amigo Bentinho. Não foi a primeira nem a última maquinação de Capitu, muito espevitada e inteligente.

"E Capitu tem razão"pensei" A casa é minha e ele é um simples agregado...jeitoso é, pode muito bem trabalhar para mim,e desfazer o plano de mamãe" 

Um pouco antes, ao falar de Pádua, o pai de Capitu, o narrador comenta como Pádua em dado momento da vida se exaspera e tenta se matar, até que tanto a mulher quanto a mãe de Bentinho intervém e o auxilia moralmente a sair da enrascada.

 É interessante perceber como Capitu reproduz com Bentinho e futuro marido esse modelo de relacionamento da própria mãe com seu pai. É Capitu quem incita Bentinho a tomar decisões e faz valer de forma a quase convencê-lo que a ideia partira mesmo dele, e não dela.  

A ida de Bentinho para o Seminário é providencial, porém,; é lá que o futuro noivo conhece Escobar, que virá a ser seu melhor amigo.

Quando sai do seminário, Bentinho, Escobar , Capitu e Sancha mantém um relacionamento amistoso e amiúde. Sancha é a melhor amiga de Capitu, dos tempos de escola. Betinho e Escobar , melhores amigos do seminário.

Então, mais uma vez, Machado de Assis, incorporando o "espírito oblíquo e dissimulado de Capitu" mostra como Bentinho estava agora, já um adulto de 22 anos e Bacharel em Direito, a cara do pai e toda gente acha o mesmo,sem exceção. Porque o filho é a cara do pai...e tal dito se embrenha na mente do leitor, e compra a ideia de que as aparências não enganam nunca...É uma manobra do narrador, para nos causar a dúvida e ajudar no sustento da mesma até o fim da obra.

"Escobar e a mulher viviam felizes, tinham uma filhinha.Em tempo ouvi falar de uma aventura do marido,negócio de teatro, não sei que atriz ou bailarina,mas se não foi certo não deu escândalo.Sacha era modesta, o marido trabalhador."

 A amizade é tanta que a primeira filha de Escobar e Sancha recebe o nome Capituzinha e depois, quando nasce o filho único de Bento e Capitu, dão-lhe o nome Ezequiel, o primeiro nome de Escobar.
A frase " se não foi certo não deu escândalo" insinua mais uma vez que se há a traição, seria perdoada se não fosse evidente...o que as semelhanças de Ezequiel com Escobar, cada vez mais pronunciadas, nos cabe ressaltar. Além do que , já sabemos, "o filho é a cara do pai".
Eis então um trecho, que acredito, que põe em xeque a questão da traição, pois que nunca houve...não por parte de Capitu, porém...
"Sancha ergueu a cabeça e olhou para mim com tanto prazer, que eu, graças às relações dela com Capitu,não se me daria beijá-la na testa.Entretanto, os olhos de Sancha não me convidavam a tais expressões fraternais, pareciam quentes e intimativos,e não tardou que se afastassem da janela (...) Quando saímos , tornei a falar com os olhos à dona da casa.A mão dela apertou muito a minha,e demorou-se mais do que costume"
Bentinho projeta em Escobar e Capitu, o mesmo desejo carnal que experimentou por Sancha. Assomado a isso um sentimento de culpa, por ter traído o amigo instantes antes de Escobar se afogar no mar, Bento precisa de uma justificativa: Escobar e Capitu  recaíram primeiro, a prova " cabal " está em Ezequiel que tanto se parece com Escobar...  

Projeção

Hermamm Hesse (1919) expressaria, anos depois, algo parecido com a teoria da projeção com um mecanismo de defesa, e o fez com a seguinte frase: 

Quando odiamos alguém, odiamos em sua imagem algo que está dentro de nós.

A projeção é um dos mecanismos de defesa mais utilizados contra as ameaças materiais externas,, imputando a responsabilidade de nossos próprios traços, sentimentos e comportamentos a outra pessoa ou ambiente. O indivíduo atribui a outras pessoas as próprias carências, virtudes ou defeitos, incluindo até mesmo seus próprios conflitos internos de ambivalência.

Deixemos de entretanto e vamos aos finalmente...Traiu ou não traiu?

Assim, Bentinho, talvez por ser um homem que "não cresceu no coração", mimado e egoísta,tomado de inveja de Escobar por ter sido pai primeiro que ele, ter lhe ajudado nas primeiras causas jurídicas e ainda ter que dividir a atenção de Capitu com o menino, seu filho (mas que para ele lhe parece um rival no afeto por Capitu, tirando a atenção que era exclusiva dele), acabou por olhar com interesse para a mulher do amigo. Mais uma vez tomado de culpa, não consegue encontrar outra alternativa do que acreditar que "ele foi traído primeiro".

Enfim, tudo isso são meras possibilidades. A única pessoal real que pode afirmar o que de fato ele quis dizer com o enredo foi Machado de Assis, mas Casmurro como ele só, levou a resposta com ele e foi  estudar a "geologia dos Campos Santos".

Curiosidades

A Rua Mata- cavalos é, atualmente, a Rua Riachuelo, no Rio de Janeiro. Em 1865 a rua mudou de nome, em homenagem à batalha na qual nossa armada foi vitoriosa na guerra do Paraguai. E qual o motivo do antigo nome, mata-cavalos? Era um terreno muito acidentado, com muitos barrancos, levando os animais que por ali trafegavam, à exaustão.

Qual o motivo por trás do termo Bruxo do Cosme velho? Dizem que, certa vez, Machado de Assis queimou umas cartas numa fogueira....O Bairro de Cosme Velho está situado no sopé do morro do Corcovado e do morro de Dona marta, zona sul da cidade, no Rio de janeiro.
O bairro ficou conhecido por ter sido moradia de exímios escritores da língua portuguesa, como Machado de Assis, Manuel Bandeira, Euclides da Cunha e Cecília Meirelles.

Se interessar alguém saber mais sobre o Mecanismo de Defesa Projeção, segue abaixo um artigo mais elucidativo sobre o assunto.

Fonte:https://psicoativo.com/2016/01/projecao-freudiana-projecao-segundo-freud.html#:~:text=Exemplo%20de%20proje%C3%A7%C3%A3o%20como%20mecanismo,de%20estar%20com%20raiva%20dela.

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Michelle Louise Paranhos

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