[Resenha] O segredo dos Becker de Alane Brito
Conheci esse livro através da seleção de livros para a leitura coletiva do grupo Autoras Unidas-Leitoras no whatsapp.
Li no comecinho do ano , porém, veio a pandemia, e a vida de todo mundo deu um nó, não é mesmo? Mas, aos pouquinhos, tudo entra nos eixos e , por isso, após a releitura a fim de ter todos os detalhes da trama bem nítidos na memória, eis aqui a resenha. Bom, vamos então à ela?
Autora: Alane Brito
Número de páginas: 580
Gênero: novela literária, suspense psicológico.
Link do e-book: https://www.amazon.com.br/Segredo-dos-Becker-Alane-Brito-ebook/dp/B07Y8N656G
O suspense Os segredos de Becker de Alane Brito é uma obra que foge aos padrões- e digo isso de forma positiva!
Embora seja incomum um livro tão extenso pertencer ao gênero Novela,a narradora-personagem Sara traz muitos questionamentos ao leitor sobre suas reais intenções e a história está focada num conflito central e tem poucos personagens, e é por isso que considero esse livro como sendo uma novela literária. Porém, não se engane com a extensão: somente ao reler que me dei conta do tamanho do livro, pois, na primeira leitura que fiz, senti a trama tão fluída e instigante que sequer percebi o número de páginas, lendo a um só tempo até o fim...de fazer perder o fôlego!
Creio já ter dito aqui que eu não costumo ler sinopses do livro que vou resenhar; porém,analiso detalhadamente a capa, e tento imaginar do que se trata o enredo a partir dela.
A frase de impacto"Encare as consequências de calar-se" é muito sombria, e a sensação que passa aquela jovem no centro da página deitada em posição fetal é angustiante. Tanto a posição quanto o sentimento que o quadro geral transmite é de solidão, aprisionamento e, ao mesmo tempo, transmite a sensação oposta, como se fosse um ninho de pássaros, acolhedor e seguro, onde a jovem está confortavelmente deitada- por se tratar da história de uma família.
Além disso, o capítulo 1 se inicia em Outono de 1975, contado em Flashback. A data é escrita em letra cursiva, dando a entender um diário de adolescente, reforçando os sentimentos de solidão e segredo; Mas a narrativa em si não é em formato de diário, sendo apenas um efeito dramático.
"O que me define como uma boa pessoa? Meus atos ou minhas intenções enquanto realizo determinadas ações? Eu fui capaz de fazer coisas que não sei se teria coragem novamente. Talvez seja o sangue que corre em minhas veias que me impulsiona, o que tornaria tudo muito pior. Esse último outono mudou toda a minha vida. Enquanto a verdade de tudo foi sendo revelada cheguei a me pegar desejando continuar na ignorância, porque era bom. Para mim pelo, menos. Talvez no fundo eu soubesse há tempos, mas tive medo de trazer tudo isso que fez meu mundo desmoronar à tona, porque isso exigiria uma força que eu não acreditava que tinha. E talvez eu realmente não tenha, porque sinto-me devastada. Não só pelo que foi tirado de mim, mas porque sinto que deveria ter feito mais para ajudá-lo. Ele. O rapaz que amo. Eu deveria ter feito mais por ele."
O enredo
Os Becker são recém-chegados à (fictícia) cidade se Sunshine Town em Iowa. Um lugar com pouco mais de 5.000 habitantes,de gente simpática e tão acolhedora quanto o perfil norte- americano permite. Embora sejam pessoas acolhedoras, também são focadas em seu trabalho, e não é à toa que eles cunharam o termo workaholic - livremente traduzido por "trabalhador compulsivo". Por qual razão menciono essa questão? Por que isso, em parte, explica a razão pela qual os vizinhos nunca questionaram a família Becker sobre a reclusão em que viviam, e se deixavam convencer com saídas pela tangente que até mesmo a jovem Sara aprendeu a fornecer, quando alguém queria visitá-los.
Maggie ainda estava grávida de Sara quando ela ouviu o choro do bebê na casa ao lado, quando então os Becker ainda moravam no Oregon. Mike era então um serzinho frágil de apenas um ano de idade, que morava com os pais e mais três irmãos.
"Meus pais enxergavam Mike como o tipo de criança que provavelmente não fosse nem ao menos forçada a comer para parecer saudável, devido a sua magreza. Os irmãos eram intimidados a não contar nada, a não ser que os machucados constantes do mais novo eram resultados de brincadeiras entre eles. Um dia, minha mãe ouviu o pai mencionar em alto e bom tom que não suportava mais “criar filho de outro”. A esposa de certo havia sido contaminada por esse ódio indiscriminado, ou seria por causa da culpa do deslize no matrimônio que, em vez de proteger a criança, ela acobertava tudo, provavelmente com o propósito de manter o casamento"
Então, os futuros pais de Sara tentaram alertar a polícia daquilo que acontecia na casa ao lado, sem sucesso. E, em dado momento, munidos de compaixão, sequestraram a criança daquela infinidade de maus-tratos e fugiram com ela para Sunshine Town.
Sara já nasceu nesse esquema: proteger Mike era prioridade máxima. Por isso mesmo, o quarto de Mike ficava atrás de uma porta-de- correr falsa. Quando os amigos de Benjamim iam visitá-lo para juntos irem caçar, Mike ficava trancado atrás da parede falsa e ninguém sabia da presença do quarto morador na casa.
É bem verdade que apenas Benjamim recebia visitas. Nem mesmo Maggie ou a filha recebiam alguém em casa; Sara jamais poderia receber colegas de escola em casa, por exemplo. Ela inclusive, teve que ser ensinada a mentir e criar respostas evasivas , inicialmente às custas de ameaças de castigo físico vindas do pai. Com o tempo, porém, ela mesmo introjetou a necessidade daquele comportamento torpe e passou a temer que, se os pais fossem descobertos, poderiam ser presos;e para piorar, Mike retornaria para a casa onde sofria maus-tratos e ela...ficaria longe dele.
Sara ensinou Mike a ler e pegava os livros na biblioteca da escola para levar para Mike. Ela o visitava sempre depois da escola no quarto dele. Embora a jovem não fosse proibida de vê-lo no quarto dele, ela ia sempre às tardes, se esforçando para não ser vista, embora desde o inicio percebemos que há certa conivência da mãe, que finge não apenas não ver nada como faz o possível para amenizar o gênio do marido, que é especialmente rude com Mike.
Para culminar, a adolescente , que nunca fora criada com a ideia de que Mike seria seu irmão, passa a nutrir um sentimento conflitante em relação ao rapaz. Seria amor romântico?
Considerações
Aos poucos Sara faz amizades e começa a perceber que há algo estranho em sua família.
É importante destacar como Sara é crédula, nunca questionando a atitude de seus pais e sempre aceitando tudo que eles falavam, justificando sua ação como sendo motivada por um sentimento nobre: compaixão.
Toda criança inicialmente é como Sara: tem seus pais como ídolos,dignos de servirem de modelo para conduta e caráter, nunca os questionando. Mas,essa fase de adoração das crianças pelos pais acaba e, um belo um dia, passam a enxergar aos pais como seres humanos com defeitos e qualidades. Para muitos essa fase se dá justamente no início da adolescência e, na conclusão dela, após o turbilhão que a vida de todos fica durante essa fase questionadora, pais e filhos, estes agora já jovens adultos amadurecidos, compreendem que não são seus pais que são falhos, mas sim todo e qualquer ser humano. Por isso mesmo, passam a entender e a perdoar seus pais e a si mesmos.O final da adolescência também é o final de uma fase ingênua e encantadora, quando o jovem adulto passa a enxergar as relações pessoais de maneira mais realista e menos idealizada.
Imagine como foi para Sara tornar-se adolescente nesse contexto?
E então temos o intrigante e complexo Mike que inicialmente só existe na narrativa porque Sara dele se compadece, mas, durante o desenrolar da trama, vai demonstrando personalidade e ser de uma força impressionante para alguém criado naquelas condições. Pois uma coisa é certa: Os pesadelos de Mike, ao ser sequestrado de uma família que o maltratava, estavam só começando.
❤❤❤
Gostaram da resenha de hoje? Deixe seus comentários e não deixe de ler a obra na Amazon!
Até a próxima!☺
Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Sandra!
ExcluirExcelente resenha! Fiquei curiosa para ler o livro.
ResponderExcluirAdorei! E esse livro é fantástico!
ResponderExcluirQue resenha incrível, Michelle! Obrigada pela dedicação e capricho, ficou maravilhosa! Amei seus pontos de vista, é sempre bom enxergar a história pelos olhos de outra pessoa. Amei, amei!! 💜💜💜
ResponderExcluirOii!
ResponderExcluirRealmente, com a pandemia muita coisa começou a desandar, mas fico feliz que esteja se organizando mais. Não conhecia a autora nem o livro e AMEI.
Também não tenho costume de ler sinopse, acho que a capa tem um poder muito grande no momento da aquisição... E fiquei feliz em saber que esse livro faz jus a beleza dessa capa. Já adicionei na minha listinha. Que bom que a leitura é fluida, pois realmente são muitas páginas hehehe.
Beijinhos,
Ani
www.entrechocolatesemusicas.com.br
Oieeee,
ResponderExcluirSeja bem vinda de volta! Eu não conhecia o livro e confesso que achei a história incrível, já anotei a dica e vou incluir ele nas minhas leituras!
Oi Michelle!
ResponderExcluirAchei interessante e intrigante sua resenha, não conhecia esse livro, fiquei compadecida por Sara e por Mike, uma vida enclausurados e se escondendo de todos é difícil. Parabéns pela resenha, estou curiosa para ler e saber como termina esta história, obrigado pela dica, bjs!
Olá, tudo bem? Gostei do que disse sobre o livro. Também tenho essa questão de não ler muito a sinopse antes de ler ou resenhar, pois gosto de entrar na narrativa me surpreendendo desde o início. Parece ser um livro complexo, no bom sentido, e gosto de leituras assim. Dica mais que anotada!
ResponderExcluirBeijos