Ser escritora

                                   Ser escritora

         Acordei e olhei para o teto.Procurei,com muito custo,concentrar-me nas teias de aranha que insistiam em aparecer,aqui e ali,no ventilador de teto,nos cantos da parede...
         Em vão. 
         A pergunta escrita em meu chat ,por uma amiga e e leitora de minha página na rede social,ainda aparecia na tela virtual projetada pela minha mente:
         "Porque você não publica seus textos?"  
          Boa pergunta.Porque?.
          A aranha é uma metáfora interessante.Um animal que se esconde e parece observar o mundo,um lugar de gigantes.Mesmo sem observar sua presença,porém, a aranha aparece através de suas ações,e suas teias surgem periodicamente,em qualquer lugar que o olhar mais apurado pare para observar.No jardim e dentro das casas,não importa quanto sejam rompidas ,suas teias ressurgem,pacientemente  reconstruídas.
          Todos os dias,várias vezes ao dia,se necessário for.
          Construir teias é necessário e sua vida depende disso.É  através delas que conseguem obter seu alimento.Nem frágeis ,nem fortes,tanto as teias quanto as aranhas,  podem encerrar essas duas características tão contraditórias em si,com a maestria que só a natureza possui.
          Durante anos escondi de mim mesma esta veia artística,recalcando o desejo de escrever e  limitando-me a observar o mundo de gigantes.Sem me dar conta fazia um laboratório interessante,em que os mais diferentes autores emprestavam suas linhas para minha observação.Diferentes estilos eu li,buscando obter através da leitura penetrar e apropriar-me deste novo mundo.
        Então,um presente especial marcou a grande transformação.Ganhei aos dez anos um diário,um desses modelos femininos,românticos,com cadeado e chave.Achei aquilo muito estranho,levando-se em consideração que até então nunca deparara-me com um, até aquele momento.O que eu poderia escrever ali que precisaria ser guardado como segredo?Durante anos o tal diário permaneceu ali,esquecido na gaveta da cômoda.Era um processo interessante este meu,porque apesar de não saber como nem porquê escrever,guardei o livro propositalmente em um lugar em que meu olhar podia se deparar sempre,quase que diariamente.Até que não pude mais resistir.
         Escrevia de tudo.Primeiro como um diário propriamente dito,narrando sobre meu dia e relacionamentos com família e amigos.Mas logo adotei agendas,porque os diários eram muito pequenos para eu por as reportagens pacientemente recortadas,com minha opinião escrita ao lado.
          Era estranho escrever para mim mesma,e inspirada em um dos livros de Lygia  Bojunga: "A bolsa Amarela",em que a personagem principal,Raquel,inventara um amigo para quem escrevia sobre sua vida,e guardava os escritos numa bolsa amarela.Incrivelmente,ela também recebia respostas do amigo,e assim começava diálogos impossíveis entre uma criança e seu amigo imaginário(ou quem sabe,um alter ego?).Criei um amigo para enviar minhas cartas.
         Nunca obtive respostas,porém.Achava que ninguém se importaria de ler minhas ideias,e há muito,deixara de escrever em diários com segredo.Afinal,quem perderia tempo em ler sonhos de uma garota,quase uma menina?Claro,eu sofria calada com problemas de autoestima,e durante anos assim a situação permaneceu.
         Com o tempo,escrever diários perdeu sentido,pois não conseguia manter a regularidade que eu gostaria ,e outras atividades parecia adquirir maior relevância.Vieram os namorados,a faculdade,mudança para outra cidade e a separação da família .O casamento e os filhos.
         Um dia surgiu a rede social.Pensei como ex-tímida jamais em fazer parte de uma.ledo engano,a curiosidade nata teceu mais uma teia,e descobri tateando como mexer em um computador.Entrei não em uma,mas em dua redes sociais,e com o tempo,surgiu o convite para administrar uma página.
         Adorei.Era algo extremamente prazeroso e viciante.Com o tempo,porém,eu queria ter minha própria página,colocar ali minhas opiniões,minhas poesias preferidas e a arte,sim,porque a arte é aquilo que dá sabor à minha vida.
          Nesse emaranhado frágil e resistente,nasceu Entrelinhas:arte,Opinião&Poesia.Um ano se passou e estou diante de um novo desafio.Escrever um livro!
          A amiga do chat pacientemente explicou-me o processo para a incrédula escritora incipiente,que a muito custo aceitou ostentar tal título.Escritora.Um novo desafio.
          Tecer uma nova teia,e seguir meu caminho.Reconstruir se preciso for,mas criar uma nova estrada,e assumir minha identidade.De repente eu cresci,e o mundo não é mais de gigantes.São iguais a mim.Hoje,eu sou um ser social.Uma escritora.(Michelle Paranhos) 

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